"Por destino ou por capricho, há um músculo que nos comanda, que nos dá e tira a vida, que matiza esse percurso em volúpias do imaginário.
Chama-se coração e no arco dos clichés possíveis, ultrapassa abismos entre o tosco e o sublime: ele pulsa, infrene, nos ditos populares, na boa e na má música, nos desenhos anónimos e em pinturas magistrais, nos cupidos que espevitam o amor, nos prostíbulos que o dissolvem, no retrato de estados de alma, nas cores, vivas ou pesadas, da paleta da nossa existência.
Ele é, provavelmente, o primeiro e incipiente rabisco ensaiado por uma criança; é, também o derradeiro e emudecido som no sopro de uma vida que fenece.
E sendo tanto e tão disperso, dele evoco o pouco que no coração mais me fascina: o seu tropel na força da adrenalina, quando corpo e alma se fundem no amplexo de uma emoção.
No primeiro beijo, no nascer de um filho, no rosto de uma mãe, no longo anseio conquistado, na partilha com alguns amigos.
E na sua ausência.
Talvez seja isso que mais marca o coração - o meu coração: o silêncio de quem não está."
*Mário Assis Ferreira
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